ICE lança operação “Freaky Friday” e mira crianças e adolescentes imigrantes desacompanhados nos EUA

O Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) iniciou uma nova operação nacional denominada “Freaky Friday”, direcionada a crianças e adolescentes imigrantes desacompanhados que cruzaram a fronteira sem seus pais ou responsáveis legais. A ação tem causado forte preocupação entre advogados e entidades de defesa dos direitos humanos, que denunciam práticas consideradas ilegais e coercitivas por parte das autoridades.

De acordo com relatos de advogados de imigração e organizações que atuam na defesa de menores migrantes, o ICE tem enviado cartas de ameaça a jovens que estão sob proteção do governo federal. As mensagens exigem que os destinatários abram mão dos direitos garantidos pela Lei de Proteção de Vítimas de Tráfico e Violência (TVPRA), retirem seus pedidos de asilo e até aceitem US$ 2.500 para retornar “voluntariamente” aos países de origem.

As entidades afirmam que, nas cartas, o ICE ameaça os menores com detenção indefinida, transferência para centros de custódia e até prisões de familiares que vivem nos Estados Unidos, caso as condições impostas não sejam aceitas. “Essas práticas são moralmente inaceitáveis e juridicamente questionáveis. O governo está tentando coagir jovens vulneráveis a desistirem de seus direitos legais”, afirmou uma advogada da organização Kids in Need of Defense (KIND), sob condição de anonimato.

Os chamados “menores desacompanhados” são crianças com menos de 18 anos que entraram nos EUA sem pais ou responsáveis. Segundo a TVPRA, esses jovens não podem ser deportados imediatamente e têm direito a pedir asilo diretamente ao Serviço de Cidadania e Imigração (USCIS) — mesmo que já exista um processo aberto na Corte de Imigração (EOIR). A lei também garante avaliações obrigatórias sobre risco de tráfico humano ou perseguição e custódia adequada em abrigos supervisionados.

Especialistas alertam que o direito à proteção da TVPRA permanece válido mesmo após o jovem atingir a maioridade, um ponto frequentemente ignorado em algumas das cartas enviadas pelo ICE.

Organizações de apoio recomendam que nenhum menor ou familiar assine documentos sem a presença de um advogado, participe de sessões de orientação “Know Your Rights” (Conheça seus Direitos) e documente qualquer correspondência recebida.

A operação “Freaky Friday” ocorre em meio à escalada das ações de imigração sob o governo Trump, que prometeu reforçar o controle de fronteiras e ampliar deportações — medidas que, segundo críticos, estão atingindo também os grupos mais vulneráveis: crianças e famílias em busca de proteção humanitária.