Economia

Repressão à imigração pode afetar agricultura e elevar preços dos alimentos nos EUA

today22 de outubro de 2025 10

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O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos reconheceu oficialmente que a política de endurecimento contra a imigração ilegal, promovida pelo presidente Donald Trump, poderá provocar graves consequências para a agricultura americana — incluindo escassez de mão de obra e aumento nos preços dos alimentos.

Em documento publicado no Federal Register, diário oficial do governo federal, a agência admitiu que a intensificação da fiscalização e a deportação de trabalhadores indocumentados “terão efeitos significativos no mercado de trabalho agrícola”, setor que historicamente depende fortemente de imigrantes sem documentação. Segundo o órgão, “sem uma ação imediata, os empregadores rurais não conseguirão manter suas operações, colocando em risco o abastecimento alimentar do país”.

A análise faz parte de um conjunto de medidas que buscam facilitar a contratação de trabalhadores estrangeiros por meio do programa de vistos H-2A, que permite a entrada de imigrantes para empregos sazonais quando há escassez de mão de obra doméstica. O Departamento do Trabalho propõe reduzir o valor que os fazendeiros são obrigados a pagar a esses trabalhadores, a fim de equilibrar os custos em relação aos salários pagos atualmente a imigrantes indocumentados.

Estudos citados pelo órgão apontam que trabalhadores sem documentação recebem entre 4% e 24% menos que os empregados legais. A diferença, segundo a pasta, cria um “forte incentivo financeiro” para a contratação de mão de obra ilegal.

Pelas novas regras, o salário mínimo pago a trabalhadores agrícolas de baixa qualificação no Arizona, por exemplo, cairia para US$ 15,32 por hora — cerca de 10% a menos do que atualmente — e apenas 17 centavos acima do salário mínimo estadual. Para funções de maior qualificação, a remuneração seria de US$ 18,01.

A proposta, no entanto, gerou forte reação. Teresa Romero, presidente da United Farm Workers (UFW), classificou a medida como “uma catástrofe para os trabalhadores americanos”. Segundo ela, “o corte salarial de Trump abre as portas para perdas ilimitadas de empregos nos Estados Unidos”, ao favorecer a substituição de trabalhadores locais por mão de obra estrangeira mais barata.

Outros críticos, como Mark Krikorian, diretor do Center for Immigration Studies, afirmam que a medida “reduz o incentivo para que os agricultores deixem de depender de trabalho imigrante de baixo custo”, contrariando o objetivo declarado do governo de promover empregos para cidadãos americanos.

O próprio Departamento do Trabalho reconhece que o aumento dos salários agrícolas implementado anteriormente não atraiu trabalhadores americanos em número suficiente. A justificativa é que o trabalho rural continua sendo “fisicamente extenuante, realizado em áreas remotas e com riscos à saúde e segurança, o que desestimula a participação da força de trabalho doméstica”.

O impacto econômico pode ser significativo. Um estudo citado pelo governo indica que uma redução de apenas 10% na força de trabalho agrícola pode gerar queda de até 4,2% na produção de frutas e vegetais. Diante de que cerca de 42% dos trabalhadores rurais nos EUA estão em situação irregular, o risco de desabastecimento e alta de preços é considerado elevado.

Escrito por Brazilian Times

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